segunda-feira, 6 de julho de 2009

PANAMBI 54 ANOS

Panambi 54 anos: vicissitudes do processo de emancipação

Lauro Manzoni Bidinoto
laurobidinoto@yahoo.com.br
No último dia 28 de fevereiro, Panambi completou 54 anos de atividades como município, posto que foi nesta data, no ano de 1955, que tomou posse o primeiro prefeito, Sr. Walter Faulhaber. Todavia, antes que a instalação oficial da nova municipalidade pudesse ser concretizada, transcorreram cinco longos anos de debates acirrados, pois era necessário o desmembramento de terras pertencentes a outros municípios, condição indispensável que resultou no conflito de interesses e, por conseqüência, no embate entre as posições contrárias. Além da disputa política travada nas urnas em dois plebiscitos (1949 e 1953) e na Assembléia Legislativa através da atuação de parlamentares favoráveis a uma ou outra causa, o conflito se estendeu, em algumas ocasiões, ao plano físico.
Alguns exemplos das vicissitudes que marcaram aquele período podem ser conhecidos através dos recortes de jornais arquivados no MAHP, entre eles, o Correio Serrano, de Ijuí. Como toda a publicação, naturalmente, o periódico posiciona-se em favor de uma das partes, embora nem sempre isto apareça de maneira tão clara ao leitor. Todavia, não pretendo aqui averiguar a veracidade dos fatos, o que exigiria o confronto de fontes, mas sim resgatar alguns acontecimentos noticiados pelo jornal Correio Serrano, tentando apenas reconstruir um pouco do “clima” político que antecedeu a criação do Município de Panambi.
Com a criação de uma “Comissão emancipacionista”, em janeiro de 1949, começaram a ser tomadas as medidas necessárias à criação do município e a partir daí começou também a ser organizada a oposição ao projeto por parte dos governantes de Palmeira das Missões, tendo em vista que aquele município perderia o distrito de Condor, da mesma forma que Cruz Alta perderia o distrito de Panambi. Os momentos de maior tensão nesta disputa parecem ter sido os que antecederam a realização de um plebiscito em setembro de 1949 consultando a população dos distritos de Condor e Panambi sobre o assunto. Bem antes, porém, em 4 de abril do mesmo ano, o jornal Correio Serrano publicou sobre Panambi: “...A população, quase toda em sua totalidade acompanha com justificado entusiasmo os trabalhos e aguarda com ansiedade a ocasião em que, pelo plebiscito, possam ratificar a sua justa aspiração. Há, naturalmente, como não podia deixar de ser, uma pequena turma ‘do contra’; outros poucos, completamente indiferentes, que nem se interessam pelo assunto, e ainda alguns que, embora se declaram 100% pela emancipação, às vezes, talvez a propósito, ou mesmo involuntariamente, perigam prejudicar a lisura com que estão sendo orientados os trabalhos. Ainda há poucas semanas apareceu um artigo num dos jornais cruzaltenses, onde o comentarista é de opinião que a campanha está sendo feita indecentemente...”
Pouco mais tarde, no dia 11 de maio de 1949 o Correio Serrano publicou outra matéria, com o título: “Escandaloso arrombamento do Fórum de Palmeira” referindo-se a um fato ocorrido no mês anterior, classificado pelo periódico como “um arrombamento e furto vergonhoso”. Tratava-se do arrombamento do Fórum de Palmeira das Missões, de onde teria sido furtada certa documentação entre a qual se encontrariam “diversas listas com assinaturas de grande parte do eleitorado da Vila de Condor, favorável à campanha emancipacionista”.
Conforme o plebiscito ia se aproximando, os ânimos também pareciam ir se exaltando, tanto que no dia 31 de agosto de 1949 o Correio Serrano se referiu a um confronto físico: “Grave conflito verificou-se sexta-feira última quando o senhor Josino Malheiros , chefiando uma caravana emancipacionista, se dirigia para o distrito de Condor, em propaganda da causa de emancipação de Panambi. Vários indivíduos, disfarçados de trabalhadores, foram vistos armados de facão, revolver, etc. De retorno a caravana foi interceptada pelos referidos indivíduos, ocasião em que dois caravaneiros emancipacionistas - Helmuth Hack e Carlos Hisserich – foram feridos”.
Já no dia 6 de setembro, mês e que se realizaria o plebiscito, a notícia veiculada pelo jornal relatou os apuros vividos pelo futuro prefeito ao deixar a Vila de Condor dias antes: “... Deviam ser aproximadamente 7 horas e poucos minutos da tarde quando deixavam a vila, sendo que logo na saída, cerca de 300 metros do centro, o Sr. Faulhaber, que vinha guiando o seu automóvel e o Sr. Rodolfo Wenz que vinha ao seu lado, notaram que estavam sendo alvejados com tiros de revólver de poucos metros de distância. Ao notar a emboscada o engenheiro Faulhaber comprimiu o acelerador, atravessando a toda a velocidade e numa corrida perigosíssima o lugar do assalto, enquanto o seu companheiro fechava o carro para, pelo menos em parte, proteger-se do efeito das balas, que felizmente erraram o alvo...”(Correio Serrano)
Por fim, a edição do jornal Correio Serrano do dia 24 de setembro de 1949 - dia anterior ao plebiscito - tratou dos acontecimentos em torno de uma caravana de deputados que por determinação da Assembléia Legislativa do Estado percorreu as áreas emancipacionistas. De acordo com o jornal, a comissão parlamentar chegou a Panambi por volta das 14h00 de sábado e depois de comer “um suculento churrasco que foi oferecido no bar Pindorama, os Parlamentares anotaram minuciosamente todas as ocorrências que lhe estavam sendo relatadas pelos membros da comissão emancipacionista”. A matéria continua, afirmando que devido à gravidade dos acontecimentos relatados os deputados se dirigiram a Condor, onde ouviram uma série denúncias, entre elas a de um colono que “chorando e entre soluços contou aos deputados que há semanas vem (vinha) sendo ameaçado e perseguido , não só ele como todos os membros de sua família . sendo que ainda há poucos dias seu filho foi prevenido de que não saísse de casa no dia do plebiscito, se não quisesse apanhar uma surra de chicote”. A visita terminou com os deputados manifestando sua estranheza ao prefeito de Palmeira das Missões. O resultado do plebiscito de 1949 foi bastante positivo para a emancipação no distrito de Panambi, mas no distrito de Condor apuraram-se muitos votos contrários. Ainda assim, a criação chegou a ser realizada por força de mudanças nas leis e em 31 de dezembro de 1949 a Assembléia Legislativa do Estado criou o Município de Panambi através da lei Nº. 956, a qual acabaria por ser invalidada logo a seguir, por ser julgada inconstitucional. Seria preciso mais um plebiscito, em 1953, desta vez com resultados completamente favoráveis, e depois dele mais um ano de expectativa, até o surgimento da lei de criação definitiva do Município de Panambi, em 15 de dezembro de 1954.
25 de setembro de 1949 (1º plebiscito)
20 de dezembro de 1953 (2º plebiscito)
15 de dezembro de 1954 (criação do município)
20 de fevereiro de 1955 (1ª eleição)28 de fevereiro de 1955 (posse do 1º prefeito)
Texto publicado na Revista Nossa de março de 2009.

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