sábado, 29 de agosto de 2009

RIO FIÚZA E SUA HISTÓRIA - PARTE V

JORNAL HOJE SB - 29 DE agosto de 2009.
As enchentes que marcaram a história de Panambi
O crescimento urbano na cidade de Panambi gerou um impacto significativo na bacia hidrográfico do Rio Fiúza, causando enchentes no perímetro urbano, que preocupam a população trazendo prejuízos sociais e econômicos.
No Município de Panambi, a partir da década de 60, a migração do interior para a cidade aumentou, conforme dados estatísticos do IBGE. O crescimento ocorreu sem planejamento urbano, com ocupação das várzeas, dos banhados e de áreas com risco de enchentes; cidades foram crescendo, sem diretrizes que disciplinasem a urbanização e possibilitassem uma vida harmônica entre as populações e as bacias hidrográficas.
Cientistas da ONU, que estudam os fenômenos climáticos nas diversas partes do mundo, alertam que as alterações de temperatura previstas já começaram a ocorrer, devido ao efeito estufa, provocado, principalmente, pela emissão de gás carbônico na atmosfera. A elevação da temperatura aumenta a evaporação e consequentemente aumenta os riscos de tempestade e chuvas torrenciais, uma realidade que os centros urbanos deverão estar preparados para enfrentar a temperatura do planeta, principal fonte de energia do ciclo hidrológico.

Enchentes de 1926, 1982, 1992 e 2003

Nos registro disponíveis e existentes, não constam relatos de alguma enchente de proporções extraordinárias referente ao período de 1898 até fins de 1907. Os registros históricos datam de 1926, 1978, 1982, 1989, 1992 e 2003. A primeira enchente de grande proporção da qual se tem registro doi à ocorrida no ano de 1926.
Enchente de 1926: Vastas áreas da periferia urbana de Elsenau (sede municipal na época) foram gravemente atingidas. O arroio que banha o centro da cidade torna-se torrentoso em consequência da intensidade da chuva. O Rio Fiúza, em apenas 12 horas, transformou-se em violento caudal, transbordando e cobrindo extensas áreas ribeirinhas. Ao amanhecer do dia 21 de setembro, as águas do rio já inundaram algumas ruas e por volta do meio dia, numerosos moradores viam-se obrigados a deixarem suas casas. As águas subiam com tamanha rapidez que os moradores sequer conseguiam salvar seus pertences. Por meio de canoas e barcos improvisados foi possível prestar socorro ao flagelados. Foram acentuadamente atingidos os moradores da parte oeste de Elsenau. Foram inundadas pelas águas do Rio Fiúza as casas de Edwin Mathias, a ferraria de Edwin Marx, a casa de Lindolfo Franke, a serraria de Arnaldo Post e Alfredo Ketzer, as casas das famílias Dreher, Kreiser e Hermann Nies, alcançando aí o nível das águas quase os telhados. Inúmeros objetos e utensílio domésticos foram levados pela violenta torrente. Vários hábeis nadadores arriscavam-se a entrar nas águas a fim de tentar salvar o que fosse possível. Era também devastador o aspecto na área dos Kepler, a serraria, a casa comercial e a ferraria estavam tomadas pela inundação do arroio Engenho. A ponte do rio Fiúza estava totalmente submersa e a passagem impedida. Somente na noite do dia 22 de setembro as águas começaram a baixar e o dia seguinte foi belamente ensolarado. A fenomenal enchente de 1926, apesar de catastrófica, não vitimou ninguém. Após 1926, ocorreram pequenas inundações, das quais não há registros, somente diálogos e “causos” de roda de pessoas antigas residentes em Panambi.
As enchentes ocorridas em 1982 e 1992 podem ser avaliadas como calamitosas em virtude dos enormes prejuízos que acarretaram, além do impacto emocional dos flagelados, inclusive perda humana. As pessoas moradoras ribeirinhas do rio Fiúza, ou proprietários de estabelecimentos industriais ou comerciais, sofreram com a enchente, que teve como precursor um grande vendaval no dia 20 de outubro de 1982. Os fortes ventos iniciaram-se em torno das 20 horas e 30 minutos e choveu intensamente madrugada adentro e durante todo o dia 21 de outubro até que as águas atingissem cerca de 1,30 m. O saldo do vendaval e da enchente, segundo dados estimados pelo Corpo de Bombeiros, foram mais de trezentas residências danificadas parcialmente e cerca de cinquenta totalmente destruídas; o número de desabrigados ultrapassou seiscentas famílias e cerca de quinhentas edificações foram inundadas. O prefeito na época, Orlando Idílio Schneider, relatou que o educandário mais atingido foi a Escola Estadual Poncho Verde, que havia recebido verba para aumentar suas dependências e teve a construção totalmente derrubada e as salas de aula inundadas. As áreas agrícolas também foram duramente atingidas. O temporal prejudicou a cultura de trigo e, em menor grau, a do milho. Infelizmente, há que se registrar uma vítima fatal da calamitosa enchente de 1982, o adolescente Joscelino Vasconselos da Silva, de 14 anos, morreu afogado nas águas da enchente.
Depois da enchente de 1926, nenhuma foi tamanha do que a registrada em 27 de maio 1992. Ao amanhecer, o rio Fiúza e o Arroio Moinho já estavam transbordando. Avançava a chuva, constante e forte, a cidade foi alagada nas regiões centro-norte e centro-sul do perímetro urbano. Foi tão veloz o inchamento das águas que os moradores das áreas ribeirinhas, quando se deram por conta da ameaçadora gravidade da situação, já era tarde demais e não puderam salvar os objetos, móveis e até mesmo veículos. A chuva continuou durante o dia todo, diminuindo somente em avançadas horas da noite, atenuando a intensidade pluvial até a enchente se estagnar e lentamente recuar ainda na noite de 27 para 28 de maio. Foram contabilizados mais de três mil desabrigados, cerca de quinhentas casas foram atingidas, seis residências foram levadas pelas águas e inúmeras ficaram com a estrutura condenada. Muitas pontes, pontilhões e bueiros foram danificados. Na região a situação também ficou crítica, pois diversas estradas foram interditadas pelo rompimento de barreiras e queda de pontes. A Kepler Weber dispensou seus funcionários, pois o acesso à empresa era impossível e a sua divisão de veículos ficou completamente alagada. Cerca de 25 veículos foram danificados, principalmente da frota da empresa e em conserto que estavam estacionados no pátio da empresa. O prejuízo foi muito grande, não houve tempo de salvar quase nada. As instalações da empresa foram as primeiras a serem atingidas, foi sua localização é próxima ao arroio Moinho, que foi o afluente a sofrer extravasamento das águas. Resumidamente, destacamos como principais áreas atingidas messe ano: Avenida Konrad Adenauer, Ginásio Municipal, SESI, ponte da Avenida 7 de Setembro, na rótula com a General Osório, Vila Nova, rua General Osório, Andrade Neves, Rua do Recreio, Bairro Pavão, rua Barão do Rio Branco. Segundo o Setor de Engenharia da Prefeitura, as águas ficaram 1,10 m aima do nível da enchente de 1982.
Enchente no ano de 2003: as previsões da meteorologia destacaram o fenômeno El Niño atingindo o Estado, um verão excessivamente chuvoso. Na madrugada de domingo do dia 15 de dezembro de 2003, a população panambiense viu-se novamente aterrorizada pelo fantasma da enchente, que há 11 anos não ocorria. O fenômeno ocorreu em dois momentos distintos, o primeiro ao final da madrugada, quando as águas do arroio Moinho represado na altura da rua Hermann Faulhaber, alagaram algumas empresas da área e residências do bairro Fensterseifer e a rua General Osório, num segundo momento, já à tarde, quando as águas do arroio Moinho não ofereciam mais perigo, o transbordamento do rio Fiúza provocou intensa mobilização para a retirada de moradores localizados em pontos críticos, como nos bairros Pavão, Vila Nova e Erica. Estima-se que a principal causa da enchente tenha sido as enxurradas em decorrência de chuvas intensas e constantes na cabeceira do rio Fiúza, com certo grau de declividade. As chuvas iniciaram por volta de duas horas da madrugada, acompanhadas de fortes ventos, foram muito intensas e somaram cerca de 220 mm até o meio dia do dia 15. Essa enchente foi bem menor do que a enchente de 1992. A rua Andrade Neves foi a primeira área a ser atingida. O bairro Vila Nova foi o mais atingido em sua parte baixa, o bairro Fensterseifer, principalmente a rua Oscar Strucker teve as casas todas inundadas. Os bairros Alvis Kläsener e Planalto também sofreram com a cheia e famílias tiveram de ser recolocadas em abrigos temporários. Aos poucos o nível da água começou a baixar devido à chuva ter cessado. No entanto, à tarde, a chuva voltou forte e intensa, e o rio e os arroios novamente extravasaram suas águas.

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